sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Os jovens pentecostais, os teólogos liberais e a pseudoerudição





Bultmann com "analfabetismo funcional":
uma mistura ruim!



Por Gutierres Fernandes Siqueira

Um jovem neófito procura uma instituição de ensino teológico dentro da sua denominação. O estudante é de confissão pentecostal. Ele entra no seminário cheio de tradições, legalismos e perspectivas carismáticas. Um ano depois já é um “especialista” em Rudolf Bultmann. E pega para si uma missão: convencer o “povo ignorante” de sua igreja que a Bíblia está cheia de mitos e que o cristianismo é um instrumento político opressivo.

É assim que nasce um pequeno teólogo liberal (não gosto desse termo, pois a palavra “liberal” traz um sentido positivo para mim). Eu mesmo conheço alguns liberais de carteirinha. Eles nascem em seminários que levam o nome da nossa denominação e depois, imbuídos de uma missão iluminista, querem converter outros ao liberalismo teológico.

Mas neste texto apresento algumas características desses jovens liberais:


1. Mal sabem o português, mas já trabalham com temas complexos com certo ar de especialistas. Eu sei que a língua portuguesa é dificílima e, eu mesmo, sofro com ela todos os dias. Mas acho interessante um teólogo liberal que mal sabe preparar um artigo. Conheço um sujeito que não escreve nada com uma concordância razoável, mas sempre usa termos como: “paradigma”, “processo histórico”, “emancipação” e outras palavras viciadas em seus textos. Ora, se mal sabe o português como é capaz de ler livros complexos? E, se realmente os lê, como será capaz de entendê-los?

Normalmente esse grupo abraça com entusiasmo a Teologia da Libertação. Só que a Teologia da Libertação não tem apenas problemas metodológicos quanto à teologia. Essa cria latina é, também, um horror como teoria econômica. Dê o Ministério da Fazenda para qualquer teólogo da libertação é você terá o caos econômico e social, mas, é claro, tudo “em nome do bem”. E esses jovens falam de economia sem nunca terem lido nada a respeito. Mas, é claro, o “ar de especialista” paira no ambiente.

2. Em sua pouca experiência são facilmente ludibriados por uma pseudoerudição. Quando eu era adolescente morria de medo dos intelectuais. Eu achava que tamanha erudição poderia minar a minha fé em Cristo. Ora, a universidade seria um lugar que minha crença seria colocada no fogo... Até que entrei na faculdade. Nada de impressionante. Era apenas a extensão do Ensino Médio. Alguns professores ditos “progressistas” eram “fundamentalistas da vanguarda” e logo percebi esse traço intolerante no magistério que tanto falava em “pluralismo” e “democracia participativa”. Além disso, alguns tinham opiniões políticas tão idiotas que a faculdade perdeu aquela aura de um lugar tão “sabido”! Só quem não sabe de nada fica com medo de certos eruditos. E, infelizmente, muitos jovens que nutriam esse medo hoje prestam reverência a esses “eruditos”.

As ciências humanas, por exemplo, são o campo de maior conflito com essa erudição arrogante. É a intolerância dos tolerantes. O filósofo Luiz Felipe Pondé escreve:
Quando falamos em ciências humanas- ciências quase inúteis e de resultados dúbios-, o mérito então desaparece e, em seu lugar, resta mediocridade, corporativismo, repetições que mimetizam produtividade em termos numéricos e quantificáveis. Tudo a serviço de disputas miseráveis dos pequenos poderes institucionais [1].

Sim, até lembra a estrutura de certas igrejas. Por que ficar de boca aberta diante disso? Sendo deselegante diria que é pura breguice quem se impressiona com pouca coisa.

Não leia esse texto como uma defesa do anti-intelectualismo, pois não o é. O problema desses pequenos liberais não é a erudição, mas a pouca erudição. Eles seguem professores como alguns neopentecostais seguem “bispos” e “apóstolos”. Eles reverenciam certo eruditos como alguns pentecostais reverenciam certos caciques. Tanto num espaço como noutro o que temos é o exercício do cabresto. Só que no primeiro grupo isso é ser “cool”.

3. Mal conhecem a teologia conservadora e vivem de criticar caricaturas. Ora, como é fácil criticar caricaturas. Se todo reformado fosse um John MacArthur Jr., por exemplo, a crítica seria fácil e rasteira. Mas nem todo reformado é estreito com MacArthur Jr. Se todo pentecostal fosse um Silas Malafaia, por exemplo, como seria fácil criticá-los. O mesmo acontece com o conservadorismo. Não podemos simplesmente criticar a ortodoxia histórica baseados em caricaturas. Será que esses teólogos liberais já leram alguma linha do teólogo católico Joseph Ratzinger ou vivem de ler citações do Leonardo Boff? Eu sei que alguns conservadores comentem o mesmo erro em relação aos liberais, mas esse pecado é tão comum nesse meio que fico espantado como eles vivem em função das caricaturas.

Será que, tratando-se de conservadorismo filosófico, eles sabem que são os filósofos Edmund Burke, Michael Oakeshott ou Russell Kirk? Não, eles não sabem.

Se pouco sabem, como podem viver com aquele tipo professoral? "Que grande inutilidade! ", diz o Mestre. "Que grande inutilidade! Nada faz sentido!” [Eclesiastes 1.2]




Referência Bibliográfica:

[1] PONDÉ, Luiz Felipe. Contra um Mundo Melhor. 1 ed. São Paulo: Leya, 2010. p 178.


LEIA A SEGUNDA PARTE AQUI.

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